Foto: Marcelo Cortes-CRF
O tema “Gerson NÃO deu certo na Europa” ganhou uma grande repercussão (até porque envolve um jogador da maior torcida do Brasil) por conta de uma fala da jornalista Ana Thaís Matos.
Ela lamentou o retorno do meio-campista pelo fato de que todo jogador brasileiro que não consegue se firmar no futebol europeu faz opção de voltar ao Brasil. E a fala foi levada (ou interpretada) em um tom diferente para torcedores rubro-negros, até a diretoria e o jogador Gerson, uma vez que o assunto virou pauta da coletiva de apresentação do jogador.
Vice do futebol do Flamengo, Marcos Braz saiu em defesa do jogador e disse que Gerson deu certo na Europa porque teve 11 gols e 10 assistências no Olympique, da França e acrescentou: “Só porque o jogador não quer ficar lá, não deu certo? É uma análise rasa e preconceituosa”.
Há dois pontos nessa discussão. A primeira: já é a segunda vez em que Gerson retorna da Europa após não ter sucesso/sequência por lá. Antes, ele passou por Roma e Fiorentina, ambos da Itália, e muito provavelmente poucos nem lembram disso, justamente devido ao que não correspondeu.
Agora, pouco mais de um ano e meio na França, a decisão tomada pelo jogador também foi de retornar ao Brasil, depois de passar a ser pouco utilizado pelo técnico croata Igor Tudor, que substituiu Jorge Sampaoli. E aí entra o bom ponto levantado pela Ana Thaís Matos.
Pela alta expectativa criada em alguns jogadores, devido ao grande potencial que têm ou que já mostraram ter, como Gerson, um retorno rápido ao Brasil passa a ser, de certa forma, um tanto quanto “decepcionante”. E não necessariamente um “fracasso”, como outros interpretaram a fala da jornalista do SporTV.
E entra o segundo ponto no debate: não tem problema nenhum o jogador “não dar certo na Europa”. Quer dois casos exemplares disso? Não precisa ir muito longe, no mesmo Flamengo.
Gabigol e Pedro. Dois dos melhores atacantes do futebol brasileiro. Um dele foi cogitado e o outro disputou a Copa do Mundo pela Seleção Brasileira. Um foi artilheiro e craque da Libertadores e o outro decidiu na final. Quem se lembra dos dois no futebol italiano?
Pedro não existiu na Fiorentina. Embora é verdade que sofreu com lesão, disputou apenas quatro jogos e retornou ao Brasil. E o caso de Gabigol na Inter de Milão e Benfica? Também não durou e foi tido com um fracasso por lá. E ai ambos optaram por retornar ao Brasil e passam a ser extremamente decisivos, bem pagos, e idolatrados pela maior torcida do país.
Não tem problema nenhum nisso. Gabigol e Pedro têm potencial para vingar na Europa, mas acabou que numa primeira oportunidade não funcionou. Gerson, em dois momentos por lá também não vingou o que se esperava. Ele, sim, foi bem no clube francês, mas não tem como usar 11 gols e 10 assistências como argumento para defender que “DEU CERTO”, porque realmente não deu. Acontece. Faz parte. É do jogo.
Assim como não tem problema nenhum ele retornar para um lugar onde se sente feliz e amado, que é no Flamengo. São escolhas. Ele poderia ter optado em ir para um outro clube da própria França e de talvez um menor escalão em outro país, mas quis voltar ao Flamengo – que pode oferecer até mais do que esses outros clubes, financeiro e plano de carreira, com conquistar. E tá tudo certo.
Quem é o melhor meia do futebol brasileiro há anos? Arrascaeta. Jogou por: Defensor Sporting-Cruzeiro-Flamengo. Três clubes, todos sul-americanos. Alguém consegue explicar como a Europa não viu o potencial do uruguaio? Não. Pode se tornar, em algum momento, uma frustração pessoal dele em não jogar no exterior, mas ele está feliz onde está.
A maioria dos jogadores com potencial no Brasil saem muito cedo e por uma série de fatores, na maioria das vezes, não dão certo. Seja pela imaturidade, distância de familiares, cultura do país, ambiente do clube e por aí vai. Gustavo Scarpa saiu de campeão do Brasileiro para a Premier League (embora para um clube de menor expressão) aos 29 ANOS, depois de muita experiência. Pode ser que o meia ex-Palmeiras dê certo e que outros clubes da Europa possam olhar diferente para o Brasil, não necessariamente em busca de um “novo Neymar” (como enxergam Vinicius Júnior, Rodrygo e Endrick).
Gerson tem apenas 25 anos, ainda pode acrescentar bem ao Flamengo e depois mais uma vez ser negociado ao mercado europeu, pelo alto potencial que tem. Mas ao mesmo tempo pode preferir ficar no Flamengo, como sempre desejou, onde já deu muito certo.